03 outubro 2016

for him

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Há um menino aqui dentro. Eu o conheço. E, apesar de estar escuro, sei que só há ele nesse lugar. O sinto facilmente. Essa aura doce e pesada. Esse lábio desenhado que contorna seus medos. Esse coração que tem vontade de voar.  Voar e viver livre, longe da prisão que é o corpo.
Ele ainda não me deixou entrar, mas consigo ver facilmente o escuro daquele lugar. O escuro confortável e macio. Seguro e singular.

Sei que sente medo de abrir a porta para qualquer um, mas um dia desses ele me deixou entrar.  Naquele momento senti que ele estava depositando confiança em mim. Por que eu? Acho que sei como explicar isso.

Tudo começou quando dei a partida no carro e deixamos a cidade menos tediosa. O álcool não corria no meu sangue, mas me sentia bêbado – o que aqui quer dizer, contaminado por um sentimento que me tirou de mim.

Naquela noite, a liberdade pulsava cada instante. As estrelas e luas prateadas corriam acima de nós, mas também eram refletidas em cada tato, beijo, pele. Eu não estava preso à ele, nem ele a mim. Éramos almas leves prontas para voo.

Os artificiais tons de roxo e azul refletiam na sua alegria marcada por um constante sorriso. Nem parecia aquele menino retornando ao quarto. Nem parecia com o menino que cumpria o dever, sorria, sofria e sofria.

De volta ao escuro, ele tentou levantar. Tateava os objetos do quarto, mas logo tropeçava em um que não conseguia ver. Levanta novamente. Cai. Levanta. Por fim, mesmo que com alguns arranhões, ele grava onde está cada tropeço e não tropeça mais, assim tão facilmente.
Estou na porta, estendo a mão. Quando sinto o toque delas, as puxo. Vivemos mais umas horas. É como se estivéssemos voltando para casa. A casa que não nos deixam morar, mas é como se fosse nosso lar. O vento nos faz cócegas e abre nossos sorrisos. Conseguimos sentir o ar invadir os pulmões e sair com mais facilidade.


Então ele diz que já é hora de voltar. Estremeço e lembro que não estou preso à ele, nem ele a mim. Me olha enquanto espera uma despedida. Fito um sorriso que traduz aquilo que eu compreendo dele. O compreendo porque ele sempre me faz lembrar que o lugar mais seguro para se estar é dentro de si mesmo.

11 julho 2016

Densidade | Samara


mergulho 
na profunda densidade dos meus sonhos
inconsciente 
como atravessar a rua sem ver o carro 
que me levou
por tanto
mergulhar


 As fotos foram inspiradas na música "Daqui Pra Lá", de Plutão Já Foi Planeta.
Fotos e texto: Lucas Dias.
Alma poética: Samara (ou Samaravilha)

10 julho 2016

Blue | Bianca


há um céu por toda a cabeça
que tem raízes e fios
como quem integra sua natureza
com a do mundo


 As fotos foram inspiradas na música "I Love My Lawyer", de Ofelia K.
Fotos e texto: Lucas Dias.
Alma poética: Bianca